O galinheiro Brasil e as raposas evangélicas, fisiológicas, homofóbicas e afins
Dentre as inúmeras más escolhas que a presidente decidiu tomar em seus dois mandatos, nenhuma foi tão infantil, mal-calculada e míope quanto a de escolher Arlindo Chinaglia (PT-SP) como seu candidato à presidência da Câmara. Enfraquecida por uma eleição raivosa, Dilma precisava mais do que nunca da fisiologia sem-caráter do PMDB para governar. Ao desafiar Eduardo Cunha (PMDB-RJ) na disputa da chefia do Congresso e conquistar o ódio inequívoco dos peemedebistas, ela transformou o Brasil no refém de uma agenda pseudorreligiosa, conservadora, demagógica, que condena seu governo, na melhor das hipóteses, a um purgatório de promessas de campanha onde os jogados nas chamas somos nós.
O avanço de Cunha e Renan Calheiros (PMDB-AL), seu parceiro no seqüestro do governo Dilma, coincide com o retorno dos tempos dos cleptocráticos anos 80 e uma coalizão multipartidária do que há de pior na política: irresponsabilidade fiscal, loteamento de cargos de primeiro e segundo escalão, leniência com o aparelhamento de ministérios e órgãos federais, discursos demagógicos e populistas, agenda ultraconservadora e uma “ética” cujo único objetivo é a permanência no poder. Um exemplo de sobrevivência no poder é dada exatamente por Calheiros, homem-chave que sobreviveu ao naufrágio collorido e, com seu instinto, lagarteou pelos lagos do Planalto até voltar a ficar colado na presidência.
Apesar do instinto de sobrevivência do alagoano, normalmente uma característica encontrada nos piores políticos, é Cunha o mais perigoso e poderoso no momento. O presidente da Câmara saltou quase que imediatamente do seu obscurantismo religioso e político para a linha de frente da gestão do país. Cunha manda na Câmara, historicamente mais difícil de ser domada que o Senado. Entusiasta da bancada evangélica, põe a banda para tocar em sincronia com o que há de pior da sociedade: redução da maioridade penal, homofobia, ruralismo, guerra ao meio-ambiente e a adoção de um ‘jihadismo’ político que combate pessoas - e não ideias. Irado por estar entre os principais nomes do escândalo da Petrobras e não ter sido apoiado por Dilma para virar dono da Câmara, Cunha quer vingança - e isso significa problemas para Dilma e para o país.
Na construção caricatural de seu personagem “democrático” com o qual tenta se livrar da cadeia que pode estar no fim da CPI, agora ele “pressiona” por uma reforma política, apesar de ser o maior - de muito longe - beneficiado pelo sistema oligárquico, imoral e pouco representativo que nos presenteou com o pior Congresso de todos os tempos. Qualquer reforma política que tenha Cunha, Calheiros e o PMDB à frente, só podem representar um - ou vários - degraus para baixo.
O Petrolão foi a pá de cal em cima da aliança de governo entre PT e PMDB. Cunha e Calheiros vão minar Dilma até o limite, arrancando dela o que quiserem, deixando a carta do impeachment sempre à mostra como ameaça. Derrubar Dilma deixaria três dos quatros principais núcleos de poder do Brasil - presidência, Congresso e Senado, nas mãos do PMDB, que é, para todos os efeitos, o novo PFL. Os guerrilheiros parlamentares da milícia peemedebista só apertarão a tecla ‘Ejetar’ para Dilma, no entanto, em último caso. Com a conjuntura atual, mesmo sem a presidência, o PMDB pode conseguir tudo o que quiser, ainda com a vantagem de toda a impopularidade de achaques como o aumento de 300% na verba para os partidos cairem no colo do PT - que, formalmente, é o “dono” da bola. Só formalmente.
Hoje, talvez como nunca, o Brasil parece um galinheiro, dada a desorganização, sujeira e barulho causados por uma democracia doente, criada no seio de um país sem educação, com uma cenário mediático totalmente deformado e bolsões de poder fora do controle da sociedade (basta ver os assustadores “Gladiadores do Altar” milícia ‘religiosa’ do bispo Macedo. O galinheiro Brasil tem como leões-de-chácara diversas raposas - uma fisiológica, uma evangélica uma homofóbica, uma conservadora, etc - controlando suas portas. Algumas galinhas incautas podem achar que a simples derrubada de Dilma será uma vitória da moralidade. Não vai. O PT e Dilma merecem muitas críticas, especialmente por ter se distanciado da sociedade que dizia querer, mas os seus aliados representam o que o Brasil tem de pior e são assustadoramente piores do que ela.
Fonte. Yahoo
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