Bancos demitem funcionários e fila de espera aumenta nas agências

Gilson reclama que há poucos atendentes. Ele já chegou a ficar mais de uma hora na fila Foto: Guilherme Pinto / Extra
O quadro de funcionários nos bancos, privados ou públicos, tem sido reduzido cada vez mais. E quem paga por isso, gastando mais tempo, são os clientes. Essa é a avaliação da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), do Procon-RJ e de clientes entrevistados pelo EXTRA. Uma pesquisa divulgada na última sexta-feira pela Contraf, em parceria com o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), dá um panorama do que vem acontecendo nas instituições: de janeiro a julho deste ano, 3.600 postos de trabalho foram cortados. Entre os estados que mais desligaram, o Rio aparece em quarto lugar. Foram 463 bancários a menos no período (confira os dados abaixo). O comerciante Gilson Sacramento, de 47 anos, tem sentido nas pernas o efeito das demissões. — Já aguardei um bom tempo. Quando não é no Itaú, é no Bradesco. Já cheguei a esperar na fila por mais de uma hora. Às vezes, só há dois atendentes. Isso é muito louco — reclama. A percepção de Gilson foi a mesma que a da reportagem do EXTRA, numa pesquisa feita ontem em quatro bancos — Itaú Unibanco, Santander, Caixa Econômica e HSBC — do Centro do Rio. Nenhum deles tinha o atendimento 100% completo, ou seja, com atendentes em todos os guichês. No entanto, os casos mais graves foram encontrados nas agências do Santander (Avenida Rio Branco, 70) e do Itaú (Rio Branco, 86). No primeiro, de oito guichês, apenas dois funcionavam. No segundo, em vez de seis caixas, havia somente dois trabalhando. O montador de andaimes Carlos Alexandre Santana, de 27 anos, cliente da Caixa Econômica, também reclama da demora que, segundo ele, não é de hoje: — Quando você mais precisa, mais demora para ser atendido. Mas isso é em qualquer banco. Não é só na Caixa (Econômica). E esse negócio de ter vários guichês, mas apenas alguns atendentes, é muito chato. Na hora do almoço, um deveria assumir o outro. Mas não. Eles largam todo mundo (os clientes), como se não fosse ninguém. Eu já cheguei a ficar mais de uma hora esperando, para pagar contas. Nem me animo de reclamar. Não tem para onde correr. Mas todo mundo que está na fila reclama.
Carlos Santana: demora em qualquer banco Carlos Santana: demora em qualquer banco Foto: Guilherme Pinto / Extra Segundo Carlos Cordeiro, presidente da Contraf-CUT, os bancos Itaú e Santander já vinham, há meses, com um forte processo de demissões: — Esse processo está muito forte nos bancos privados. E 70% dos desligamentos são os bancos que demitem. Os funcionários que pedem demissão é porque não aguentam as metas abusivas. E, sem sombra dedúvidas, isso afeta o atendimento. Os bancos, hoje, estão muito mais preocupados em aumentar o seu lucro e pouco preocupados na qualidade do atendimento. São filas cheias e pouco atendimento. Em nota, a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) afirmou o seguinte: “Nos últimos dez anos, o quadro de funcionários do setor bancário apresentou um crescimento expressivo, saindo de 390 mil para aproximadamente 500 mil bancários. A taxa anual de rotatividade de bancários é de apenas 4,5%, considerando os funcionários desligados por iniciativa do empregador e sem justa causa, enquanto a média no Brasil está em 50%, segundo dados do Dieese. As oportunidades e as boas condições de trabalho são fatores que explicam a baixa rotatividade dos trabalhadores da área. Os funcionários de bancos permanecem, em média, dez anos na mesma instituição financeira. Quem deixa um banco tem, em média, mais de 100 meses de casa, tempo muito mais longo que a média de 18 meses de quem troca de emprego em outros setores da economia. Essa política permite aos bancários desenvolver carreiras exitosas nas instituições financeiras. A diferença de salário médio entre aqueles que recém entraram no setor e aqueles que deixam o banco comprova o êxito da política interna de carreiras praticada nas instituições financeiras. Quem permanece muitos anos em uma empresa espera ter oportunidades de promoção e realização. O setor bancário ainda se diferencia no mercado de trabalho brasileiro pelo nível de seus trabalhadores: mais de 90% do universo de bancários têm curso superior ou está em vias de concluí-lo. O emprego bancário alia quantidade à qualidade. Chamam a atenção os investimentos das instituições no desenvolvimento de seus profissionais, com incentivos para a realização de cursos de extensão universitária, MBAs etc. Vale ressaltar que a evolução do mercado de trabalho bancário acompanhou o crescimento econômico do País e de maior distribuição dos benefícios desse crescimento para toda sociedade. Os ajustes recentes são pontuais” A Federação também afirmou que “não existe percentual mínimo obrigatório (de número de atendentes). Os bancos seguem a Lei número 10.048/2000, em que são obrigados a fornecer atendimento preferencial. No entanto não há especificação sobre o modelo do atendimento, desta forma depende de banco para banco”. SAIBA SEUS DIREITOS Tempo Fábio Domingos, diretor de fiscalização do Procon-RJ, explica que a Lei Municipal 5.254/2011, do Rio de Janeiro, determina que o tempo máximo de espera permitido é de 15 minutos. Em dias posteriores ou anteriores a feriados, o limite é de 30 minutos. Senhas Domingos ressalta, ainda, que, pela lei, os bancos são obrigados a fornecer aos usuários senhas numéricas de atendimento. “O tempo passa a contar a partir do momento em que o consumidor chega à agência. Se o banco não entrega a senha, o consumidor fica sem esse comprovante de a que horas ele chegou”. Sem lei Segundo a Febraban, nos municípios onde não há leis de tempo de atendimento, vale o que a federação instituiu: máximo de 20 minutos, em dias normais, e de 30 minutos, em dias de pico (antes e depois de feriados, e primeiro, décimo e último dias úteis de cada mês). Prioridade Segundo o Procon-RJ, todas as agências são obrigadas a ter atendentes nos guichês destinados a atendimento prioritário — a gestantes, pessoas com crianças de colo, com necessidades especiais e idosos. Ontem, o EXTRA não encontrou atendentes nos caixas desse tipo nas agências da Caixa (no setor “Expresso”) e do Santander. Reclamações Os usuários podem registrar reclamações contra os bancos no Banco Central, pelo telefone 0800-979-2345 ou pelo site www.bcb.gov.br, clicando no link “Fale conosco”. O Procon-RJ também recebe queixas pelo telefone 151, pelo aplicativo www.meuprocon.rj.gov.br (para tablets e smartphones) e também pelo site www.procon.rj.gov.br. A Febraban recebe reclamações pelo site www.conteaqui.org.br. Santander Em nota, o Santander afirmou que “o quadro de funcionários da agência localizada à Av. Rio Branco, nº 70, Centro, é adequado à demanda e esclarece que o atendimento preferencial é realizado no piso térreo, por meio de senha”. Caixa Econômica Também por meio de nota, a Caixa Econômica informou que “tem sido o banco que mais contrata novos empregados. Somente em 2013, foram mais de 7,9 mil admissões em todo país. Em 2014, até julho, foram admitidos mais de 2.300 empregados no Brasil, sendo 283 no estado do Rio de Janeiro O total de desligados no mesmo período, no estado, corresponde a 87 empregados. As demissões decorreram de rescisão contratual, aposentadorias, falecimento ou transferências”. Itaú Unibanco O Itaú Unibanco não retornou o contato feito pelo EXTRA. Confira a pesquisa da Contraf-CUT Confira a pesquisa da Contraf-CUT Foto: Daniel Garcia / Arte Acompanhe o noticiário de Economia pelo Twitter @AnoteePoupe. Leia mais: http://extra.globo.com/noticias/economia/bancos-demitem-funcionarios-fila-de-espera-aumenta-nas-agencias-13727923.html#ixzz3BWqKgIRO

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