Esqueça Sheherazade. A culpa é de Silvio e do governo
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Esqueça Sheherazade. A culpa é de Silvio e
do governo
Foi Silvio Santos quem criou Sheherazade e abriga
outros âncoras fascistas Brasil afora. O governo, por sua vez, permite o uso
criminoso de uma concessão pública
por Lino Bocchini — publicado 07/02/2014
09:58, última modificação 07/02/2014 19:36
Criador e
criatura: não se engane, o alvo está à esquerdaSheherazade
é um alvo menor. A moça é uma mera testa-de-ferro, uma boneca de ventríloquo. A
verdadeira voz dos discursos diários pregando o ódio, a violência, o
preconceito e a intolerância é a de Silvio Santos. Foi ele quem decidiu trazer
a jornalista da TV Tambaú, afiliada de sua emissora na Paraíba, para o palanque
nacional do Jornal do SBT. É o empresário quem a mantém intocada e lhe protege
para que siga discursando no horário dito nobre. É Silvio quem a segura para
que, ao noticiar a polêmica em torno de suas declarações, ela possa zombar de
nossa cara e bravatear que não abrirá mão de seu “direito de liberdade de
expressão”.
E tem mais. Sob o comando ou conivência de Silvio, outras
vozes semelhantes ganham força nas afiliadas do SBT. É o caso, por exemplo, de
Paulo Martins. Comentarista do Jornal da Massa, veiculado toda noite pela
afiliada do SBT do Paraná, Martins passeia pelos mesmos temas de sua colega
Sheherazade, como por exemplo o rolezinho:
“Aposentaram a cinta, essa é a geração mãozinha na cabeça.
Ninguém tem direito de se organizar em bando e tumultuar uma propriedade
privada, atrapalhar a vida de quem é responsável e honrado, tem compromissos e
não tem tempo pra perder com rolezinho”.
O jornal da Massa faz parte da programação da Rede Massa, o
maior grupo de comunicação do Paraná. O conglomerado é de propriedade de Carlos
Massa, o Ratinho, que tem seu programa na grade nacional do SBT.
Em seus comentários diários Martins já afirmou, por exemplo,
que os presidentes do Brasil, do Equador, da Argentina e da Venezuela formam “a
gangue do Foro de São Paulo”. Ao ver que seu parceiro de bancada assustou-se
com a palavra “gangue”, emendou: “Os caras são parceiros das Farc, você quer
que eu chame eles do quê?”. Há coerência com a forma que ele refere-se à atual
administração federal: “a ditadura Dilma Roussef”.
Em Santa Catarina, o SBT de Silvio Santos mantém um outro
apresentador-comentarista que cerra fileiras com Sheherazade e Martins. É Luiz
Carlos Prates, que todo dia fala o que bem entende na bancada do SBT Meio Dia,
levado ao ar pela afiliada catarinense do SBT, propriedade do Sistema
Catarinense de Comunicação.
Prates tem 50 anos de carreira e é figura conhecida no
estado. Passou por diversas emissoras antes de instalar-se no SBT e tem uma
longa lista de frases, digamos, de destaque. É o tipo de comentarista que, ao
falar do trânsito em Florianópolis, lamenta que “hoje em dia qualquer miserável
tem um carro”. Ou, ao analisar o drama das meninas que têm sua intimidade
escancarada em fotos ou vídeos na internet, diz que “só uma débil mental se
expõe promiscuamente desse jeito”.
E o governo com isso?
Por mais antipatia de uma
parcela da população que uma revista Veja ou um jornal O
Estado de S. Paulo possam despertar, faz parte do jogo democrático a
sua existência. São negócios como outro qualquer e, por mais que incomodem, têm
todo o direito de existir e publicar o que bem entenderem, dentro dos limites
da Constituição.
No caso de uma rádio ou televisão, contudo, a história é
outra. Eles operam por meio de outorgas concedidas pelo Ministério das
Comunicações com o aval do Congresso. E aí há regras. Afinal, é uma autorização
de uso de um bem público, não é uma mera iniciativa privada, como querem nos
fazer crer.
Pela legislação em vigor, é o Ministério das Comunicações o
órgão responsável por fiscalizar o conteúdo veiculado pelas emissoras e
responsabilizá-las se houver violação da lei. No caso de Sheherazade, por
exemplo, há uma lista de violações. Foram desrespeitados os direitos humanos
assegurados pela Constituição Federal, o ECA (Estatuto da Criança e do
Adolescente) e há violação explícita do Código Brasileiro de Telecomunicações,
que determina que o serviço de radiodifusão não pode ser usado para humilhar
pessoas e expô-las a condições degradantes, "nem que seus fins sejam
jornalísticos".
Ou seja, está tudo muito explícito. É só o Ministério das
Comunicações, comandado por Paulo Bernardo, começar a agir e multar as
empresas. Só não o faz porque não quer.
É importante sublinhar também que Carlos Massa ou o
proprietário de qualquer outra emissora brasileira tem o mesmo direito de
usufruir daquele espaço do que qualquer universidade, ONG, empresa ou pessoa
física. São eles os donos unicamente por acordos políticos.
E é no mínimo questionável o uso de tais concessões para
enriquecer bispos de igrejas suspeitas, faturar bilhões a cada ano com a venda
de publicidade ou colocar no ar comentaristas como Sheherazade, Martins e
Prates, que diariamente desrespeitam as leis, deseducam e pregam a violência e
o preconceito para milhões de brasileiros.
Só o governo, por meio do Ministério das Comunicações, pode
mudar isso. E só a sociedade civil organizada pode pressionar o governo e o
Congresso para que isso aconteça.
Continuemos criticando Sheherazade, ela merece. Até gosta. A
apresentadora estava se deliciando ao noticiar a polêmica em torno do seu nome
na noite de quinta-feira 6. O sorrisinho constante era o retrato da confiança
de quem está sendo não apenas protegida pelo patrão, mas também sendo
beneficiada pela omissão de quem poderia fazer algo em Brasília. Ela e Silvio
estão rindo da sua cara.
(Colaborou Bia Barbosa, do
Intervozes)
Fonte;
por Lino Bocchini
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