Marie-Joseph Artaud
Antoine-Marie-Joseph Artaud nasceu em Marselha, França, em 4 de setembro de 1896. Transferiu-se para Paris em 1920 para estudar interpretação teatral e estreou como ator no grupo surrealista Théâtre de l'Oeuvre. Enviou seus poemas ao crítico Jacques Rivière, diretor da Nouvelle Revue Française, com quem entabulou correspondência, publicada em 1924. Rompeu com os surrealistas quando André Breton aderiu ao comunismo e uniu-se a outro dissidente, Roger Vitrac, para fundar o Théâtre Alfred Jarry, de efêmera trajetória. A teoria de Artaud foi expressa nas obras Manifeste du théâtre de la cruauté (1932; Manifesto do teatro da crueldade) e Le Théâtre et son double (1938; O teatro e seu duplo), esta última publicada ao tempo em que fundou o teatro de mesmo nome, e na vasta correspondência que manteve com Jean-Louis Barrault e outros teatrólogos de vanguarda. Os principais temas de sua obra são a crueldade, o duplo e o transe, que se combinam para conformar um espetáculo, protagonizado por ator e espectador, que choca e subverte a lógica convencional, cria uma linguagem além das palavras e remete ao mito e ao ritual primevos. As obras encenadas por Artaud não tiveram nenhum sucesso. Les Cenci, apresentada em Paris em 1935, era demasiado experimental para seu tempo. A influência de Artaud, no entanto, está presente na obra de encenadores como Peter Brook, de dramaturgos como Samuel Beckett e outros autores do teatro do absurdo, e de grupos como o Living Theater de Nova York. Entre seus livros mais conhecidos estão Heliogabalus, ou l'anarchiste couronné (1936; Heliogábalo, ou o anarquista coroado) e Van Gogh, le suicidé de la societé (1947; Van Gogh, o suicidado pela sociedade). Artaud morreu em Ivry-sur-Seine, em 4 de março de 1948.
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TUTUGURI
Rito de Sol Negro
E lá embaixo, no pé da encosta amarga, cruelmente desesperada do coração, abre-se o círculo das seis cruzes bem lá embaixo como se incrustada na terra amarga, desincrustada do imundo abraço da mãe que baba. A terra do carvao negro é o único lugar úmido nessa fenda de rocha. Rito é o novo sol passar através de sete pontos antes de explo- dir no orifício da terra. Há seis homens, um para cada sol e um sétimo homem que é o sol cru vestido de negro e carne viva. Mas este sétimo homem é um cavalo, um cavalo com um homem conduzindo-0. Mas é o cavalo que é o sol e não o homem. No dilaceramento de um tambor e uma trombeta longa estranha, os seis homens que estavam deitados tombados no rés-do-chão, brotaram um a um como girassóis, não sóis porém solos que giram, lótus d’água, e a cada um que brota corresponde, cada vez mais sombria e refreada a batida do tambor até que de repente chega a galope, a toda velocidade último sol, o primeiro homem, o cavalo negro com um homem nu, absolutamente nu e virgem em cima. Depois de saltar, eles avançam em círculos crescentes e o cavalo em carne viva empina-se e corcoveia sem parar na crista da rocha até os seis homens terem cercado completamente as seis cruzes. Ora, o tom maior do Rito é precisamente A ABOLIÇÃO DA CRUZ Quando terminam de girar arrancam as cruzes do chao e o homem nu a cavalo ergue uma enorme ferradura banhada no sangue de uma punhalada.
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