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quarta-feira, 3 de junho de 2009

Os casais gays criam beleza

Os casais gays criam beleza!

Arnaldo Domiguez
Dois homens que se amavam e compartilhavam suas vidas, repentinamente foram surpreendidos por uma crise de relacionamento.
Como poderia se evitar o "burn out" ( a queima total )?
Como se sustentar o compromisso de uma relação afetiva quando a ruptura da paixão e seus encantamentos, libera os fantasmas do desamparo?
E as individualidades retornam impositivas obrigando os indivíduos a enfrentarem a transformação do casal?
O que se faz necessário para ultrapassar esta situação tão dramática que destrói a alma dos amantes, quando não, as conquistas materiais que simbolizam a união, os produtos da relação, os "filhos"?
Esgotam-se todas as alternativas mas parece que a "pulsão de morte" reina no absolutismo empurrando-os à impotência que se articula com a angústia de castração.
Os corpos cindem-se enlouquecidos. A temida fragmentação da totalidade mostra-se crua, nua e cruel.
Já não há mais uma relação-psicótica (se é possível utilizar esta expressão ambígua). A psicose agora situa-se no individual atormentado pela solidão. Perante a sensação de um pedaço arrancado. Uma metade amputada. Um vazio de ser ou uma falta de ser. Solidão a dois.
Era-se um casal. Eis dois sujeitos barrados. Impossibilitados de atingir a felicidade, tal qual haviam imaginado fantasísticamente ao abraçar o corpo do amante numa cópula simbiótica de completude.
Narciso afogou-se no lago. E o casamento acabou!
Alguém toma a iniciativa. Um deles. Geralmente aquele que se sente sufocado e que não mais suporta as cobranças de amor do amante desejante. Cobranças que ele não poderia pagar, logicamente.
Então, inadimplente, decide livrar-se desta "dívida simbólica" (que antecedia em muito tempo ao casamento) e respirandocom alívio "sai de casa" retornando ao apoio do seio familiar, onde mora "mamãe", esta senhora possuidora dos seios kleinianos.
Chegou a hora da divisão dos bens. Dos bens? Parece-me que a divisão é dos "maus". Os bens ficam por conta dos bons momentos que passaram juntos e que futuramente recordarão ao folhearem os álbuns das épocas em que "eram felizes e não sabiam".
Curioso é que muitas pessoas ajudam para acelerar a ruptura do vínculo, dando palpites negativos.
-- Você não percebia que ele não te amava? Era evidente que estava contigo por causa da comodidade que lhe era proporcionada.
O parceiro será sempre o último em saber. Ele era um cafajeste! Embora os amigos dele devam dizer coisas semelhantes a respeito deste.
Machucados e paranóicos em vão tentam encontrar, dentro da lógica, motivos que venham justificar o desenlace fatal.
Falácias, traições. Sintomas do "mal" projetados no outro.
A lógica doentia do terceiro excluído. Uma história já vivida.
Mas se o casamento tornara-se uma loucura, a separação transforma a vida das pessoas, num hospício. Um hospício de dor.
A ilusão do número "UM" está morta. Sucede-se o luto pela morte de um só corpo, uma só psique. Aquele hermafrodita de Aristófanes no banquete de Platão, antes da decisão de Zeus castrador.
Mas Zeus existe! A prova é que o número "UM" está dilacerado.
E o nascimento do número "DOIS", mais parece um aborto. Um aborto do casamento.
Será possível a ressurreição do número "UM"?
É o único modelo que eles conheciam!
Essa questão os trouxe ao consultório, buscando, uma terapia de casal.
Sentados na minha frente estes dois homens quebrados pela situação que atravessam, parecem dois meninos. Estupefatos diante do incomunicável. Do indizível. Da vivência individual (O Erlebnis de Benjamim): um lugar sem palavras.
Dirigem-me um olhar suplicante como se acreditassem que a "sabedoria" do analista pudesse responder-lhes os porquês.
Assim cada um conta uma história do casal. Uma história singular, conjugada em plural por mero acaso da fascinação.
Se confrontam quando há discordâncias.
-- Ele é teimoso, diz um deles.
-- Ele é que é teimoso, retruca o outro.
Pronto, já sei algum detalhe importante. Ambos são teimosos.
Minha mente de poeta ouve as imagens do que me dizem enquanto meu lugar de analista, olha as palavras.
ANGUSTIA
Amargo no conflito,
sofro...
me defendo como posso.
Fico aflito.
Gozo.
Peço apoio,
encontro um interdito.
Desafio, enfrento
Desabafo, desabo.
Amargo no conflito,
Sofro...
Me defendo como posso
Fico aflito,
Gozo.
Peço apoio... encontro...
repito.
Trato de enxergar por detrás das palavras. Penetrando nas histórias, enlouquecendo junto. Digo-lhes que estamos numa lavanderia (minha adorável lavanderia) e que roupa suja se lava na Lapa ( o bairro do consultório). Me intrometo na relação, Estremecem. Eles não querem uma terapia de casal!
Querem me convencer das razões individuais.
Sinto isso. Interpreto isso. Ficam ambos em silêncio. Um silêncio profundo, parecido ao da angústia, porém com uma pequena diferença. Esta angústia começa a receber um nome. Acabou a sessão. Até terça.
Terça. Parecem animados. Contam-me que fizeram amor e foram juntos à feira. Querem informações sobre a Conferência Internacional da ILGA que ocorrerá no Rio. Eles sabem que participo do Movimento Brasileiro de Gays, Lésbicas e Travestis. E que fui co-autor da constituição que deu origem a Associação Brasileira de Transexuais, através dos ideais da nossa filosofia
"Etcétera e tal... pela livre orientação sexual e de gênero".
As secretárias da clínica dar-lhes-ão os detalhes. Isto os deixa mais à vontade. Facilita o vínculo transferencial. O analista não é repressor. Nem legislador em prol da moral. O analista é o lugar da escuta.
Continuam semanalmente nas sessões. Aos poucos revela-se o "núcleo vivencial" da relação. Aquele modelo original a partir do qual se apaixonaram. E que parece ser o único que conhecem pois a ele retornam incessantemente.
Cruzaram-se numa boate há oito anos, por ocasião do aniversário de, vamos chamá-lo ''A". O outro "B", sedutor, ofereceu-se como "Presente".
Em pouco tempo já estavam apaixonados, portanto abandonaram os preservativos e o "Safer-Sex" (sexo mais seguro). Sabe-se que o "amor" eliminar ou torna improváveis as possibilidades de contágio pelas DST-AIDS!
No entanto "A" contraiu uma blenorragia. Ele estava ciente de que a única alternativa de contaminação era seu relacionamento com "B".
Logo "B" era um "Presente de Grego". Um cavalo de Tróia, enganoso ardil que ingressara no território inimigo para destruí-lo.
Continuaram juntos, fazendo mentalmente a contagem regressiva até o aparecimento dos primeiros sintomas da imunodeficiência. Não fizeram os testes. Continuaram sendo HIV Interrogativos.
Estava prontificado o território para o Sadomasoquismo.
Acusar e desconfiar do contagiante passou a ser o hábito, num jogo completar de Dominação-Submissão.
"A" era estrangeiro. "B" nativo e negro. O prólogo perfeito para brincarem de Robinson Crusoe e Sexta-Feira.
Pena que dentre os sonhos, fantasias e associações, interpunha-se sua majestade: AS QUEIXAS.
Fantasmas que pertubavam o desejo de tornar-se invisíveis, mudos e cegos perante a realidade. Quebrando todos os artifícios que poderiam ser bem sucedidos no propósito de habitarem no imaginário. "O casal 20 na Terra do Nunca".
As queixas descubriam o subterrâneo: onde conjugavasse um verbo assustador: casamento e HIV. Presentee morte.
Defendiam-se um sustentando a falsa superioridade e onipotência do outro, ora com recursos místicos, ora intelectuais.
Mas havia um entrave para evoluírem do conluio inicial em direção à cumplicidade.
Isto sem contar que "mamãe" lhes inculcara a idéia de serem "preciosos tesouros", como podem os "tesouros"admitirem suas falhas?
Quantas revelações importantes lhes trazia a análise.
Dava-lhes esperança. Surgiria uma nova tonalidade na relação.
Estavam se "dando" tão bem agora. Comunicavam-me isto com entusiasmo.
A " paixão atuava " novamente. Elogiavam meu trabalho.
Davam-me elogios como " presente ".
" Presentes de Grego "?
Semana após semana traziam expectativas insatisfeitas, desarmonias diversas, confrontos com amigos do outro (os gays casam-se com seus namorados e os amigos destes, menos freqüentemente com seus parentes).
Ciúmes, divergências financeiras, sexuais, sociais. Infidelidades.
O mercado de orgasmos tão fáceis de consumir no gueto extenso da cidade.
A dimensão moral do Sagrado e do Profano retomada do modelo ortodoxo.
A velhice, a morte e a ameaça sempre presente da separação dos amantes ("O objeto é fundamentalmente o outro corpo cujo encontro atualiza ou torna sensível a dimensão essencial da separação" -- J. Lacan).
Até que finalmente desistem de salvar o casamento. Delineando-se assim a perspectiva de salvamento. Vieram procurando um Messias Salvador e tal como ocorreu com Cristo, houve uma ruptura no curso da história, tornando-se o presente, presente.
Descobria-se um outro tipo de Beleza. A beleza das múltiplas dinâmicas que eclodiram e muito bem substituíam a ilusão da Totalidade.
Após o súbito aparecimento da fragmentação dos sentidos podia-se brincar por estarem de luto.
As alegorias construídas prendiam parcialmente os buracos da relação.
Expressavam a insuficiência do símbolo, na tentativa de abarcar a dimensão sensível da beleza ou do sofrimento ou seu sentido trascendente.
A falsa aparência da totalidade se desfez e o "casal vinte" compreendeu que estavam juntos para subtrair, não para somar.
Isto tornou possível construir algum luxo, por Deus. Eu também preciso. Amém, prá todos nós.
Trata-se de um show inacabado porque lhe falta resposta.
E não creio que ninguém, no mundo, me dê...
O único jeito é acreditar... e acreditar chorando. Pois este show acontece em estado de emergência e calamidade pública e não se pode dar uma prova de existência daquilo que é mais verdadeiro...
Apenas é um show em technicolor... para ter algum luxo. Até terça.

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