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segunda-feira, 29 de junho de 2009

Sujeito da própia História

Sujeito da própria históriaEm entrevista concedida ao Vida & Arte Cultura, o escritor e paulista João Silvério Trevisan, 65, fundador do primeiro grupo gay organizado do Brasil, fala sobre a militância política, a invisibilidade social e a crise do masculino27 Jun 2009 - 23h59min É quase impossível traçar a história do movimento homossexual no Brasil sem citar o escritor paulista João Silvério Trevisan, 65. Ex-seminarista, ele fundou o primeiro grupo gay do País, Somos, em 1978, em São Paulo, reunindo estudantes, artistas e intelectuais em torno da defesa dos direitos dos homossexuais. E também foi um dos responsáveis pela criação do jornal alternativo O Lampião da Esquina, que circulou entre 1978 e 1981, chamando a atenção para o ativismo político homossexual. Trevisan também é autor, entre outros livros, de uma das obras mais importantes sobre a homossexualidade no Brasil, Devassos no Paraíso, lançada em 1986 simultaneamente na Inglaterra e no Brasil. Nascido em Ribeirão Bonito, em São Paulo, Trevisan deu um até logo ao Brasil, no início da década de 1970, quando resolveu ir morar no México e nos Estados Unidos, movido por ideais político-revolucioná rios. Em Berkeley, no estado da Califórnia, Trevisan entro u em contato com o movimento gay organizado e com a mídia especializada nessa temática. A atmosfera do lugar inspirava as mudanças propostas pelos protestos de Stonewall poucos anos atrás. De volta ao Brasil, Trevisan começou a militância no movimento homossexual. “(Os militantes) não tinham costume de conversar politicamente sobre aquilo que não fosse do dia a dia da esquerda brasileira. Por outro lado, eram pessoas com baixíssima autoestima enquanto homossexuais. Então muito frequentemente elas não conseguiam se desligar da sua própria culpa e, a partir daí, começar a pensar os seus direitos”, lembra Trevisan. Autor, entre outros romances, de Em Nome do Desejo e Vagas Notícias de Melinha Marchiotti, Trevisan recebeu inúmeros prêmios em teatro, cinema e literatura, como o Concurso Latinoamericano del Cuento, em Puebla – México, o Jabuti (três vezes) e o da Associação Paulista dos Críticos de Arte - APCA (duas vezes). Tem obras traduzidas para o inglês, o alemão e o espanhol. Nesta entrevista, concedida na última quarta-feira, por telefone, de São Paulo, o escritor fala sobre a militância gay, a invisibilidade social dos homossexuais brasileiros e a crise do masculino. (Juliana Girão) O POVO - Qual é a importância histórica de Stonewall? João Silvério Trevisan - Historicamente, ele deflagrou o movimento homossexual moderno. Isso de um ponto de vista de data. De um ponto de vista de atitude, Stonewall é uma encruzilhada na qual homossexuais deixam de se sentir coitadinhos e passam a se sentir como sujeitos de sua própria história. Veja: o grande problema de toda a comunidade homossexual é a invisibilidade. Por que? Porque nós nem sabemos quem são e como são homossexuais nem no Brasil nem no mundo pelo simples fato de que eles se esforçam em não aparecer. Quando entra em cena a visibilidade, esse montante social que estava escondido se manifesta não apenas como um setor existente, mas também como setor que reivindica os seus direitos. OP - Em Devassos no Paraíso, você fala que definir alguém como homossexual acabaria servindo mais para uma categorização do que a uma real liberação da sexualidade. Como você vê esse posicionamento hoje em dia? Trevisan - São duas fases de uma mesma situação. A divisão homossexual, heterossexual e bissexual é um mal necessário. Isso não deve servir de pretexto para que as pessoas evitem se definir como homossexuais quando elas têm uma prática homossexual, quando elas sentem o desejo homossexual. O que estou me referindo no livro é uma situação teórica, não chamaria de utópica, mas seria algo para o futuro. Na verdade, é importante fazer essa reflexão de que toda compartimentalizaçã o é uma minimização, é uma simplificação. O P - Voltando aos acontecimentos de Stonewall, quais foram os principais reflexos no Brasil? Trevisan - No Brasil, nós tínhamos dois problemas: a ditadura de direita e a “ditadura” de esquerda. Eu me lembro que nesse período, um pouco depois, eu vivia numa comunidade de homossexuais aqui em São Paulo, debaixo da Ditadura, e um dos passatempos favoritos da gente era ir até um cinema da avenida Paulista para assistir o filme Cabaret (1972), com a Liza Minelli, do Bob Fosse, porque havia personagens em situações homossexuais. Era como se a gente fosse buscar um pouco de respiração porque nós não podíamos discutir isso enquanto pessoas ligadas a grupos de esquerda. Nós éramos clandestinos à direita e à esquerda. OP - Você morou na Califórnia, nos Estados Unidos, no início dos anos 1970. Lá Stonewall já tinha a importância que é atribuída hoje? Trevisan - A prática hom ossexual nos Estados Unidos era diferente, no sentido de que era quase uma obrigatoriedade de um homossexual tomar uma posição política. Eu nunca estive nos Estados Unidos engajado num grupo de liberação, mas a discussão era contínua, em especial, sobre os novos conceitos, sexismo, machismo, homofobia. Fazia parte das atividades informais. Eu, por exemplo, participei de grupos que eles chamavam de “crescimento de consciência”. Era numa igreja evangélica em Berkeley, onde eu ia para encontrar outros homossexuais e nós discutíamos a nossa situação. Mas isso era quase que uma terapia, não chegava a apontar para atitudes mais políticas. O fato de homossexuais se reunirem já era uma tomada de posição política. OP - Foi nessa temporada nos Estados Unidos que você se assumiu enquanto homossexual? Trevisan - Não, eu já tinha me assumido no Brasil. Eu tinha tido o meu primeiro namorado, em 1969, aos 25 ano s, mas os passos eram muito lentos. Ser homossexual naquele período significava não ter muita interlocução. Eu fui morar nessa comunidade com outros homossexuais em São Paulo, tenho inclusive um projeto de uma peça sobre essa comunidade e a gente tinha reuniões semanais. O fato de nos unia não era apenas a homossexualidade, mas o fato de termos sido quase todos ali dentro ex-seminaristas. Quase todos tínhamos nos conhecido no seminário. OP - Em 1978, já de volta dos Estados Unidos, você fundou o movimento homossexual brasileiro com o grupo Somos, em São Paulo. Qual era o cenário? Trevisan - Não havia um conceito de revolução feminista, homossexual, ambiental. Tudo era assentado na revolução proletária.As pessoas não tinham costume de conversar politicamente aquilo que não fosse do dia a dia da esquerda brasileira. Por outro lado, eram pessoas com baixíssima autoestima enquanto homossexuais. Então mu ito frequentemente elas não conseguiam se desligar da sua própria culpa e, a partir daí, começar a pensar os seus direitos. Elas, no fundo, achavam que não tinham direito nenhum e que estavam perdendo tempo da revolução, tal como a esquerda ortodoxa nos acusava, de sermos individualistas. Houve um racha e o grupo durou até 1981. A partir de 1982, o grupo se aproximou do recém-criado PT e se integrou a um diretório e lá ele desapareceu. OP - O Jornal Lampião também surgiu na mesma época do grupo Somos. O que significava aquela publicação? Trevisan - O Lampião era um jornal liberacionista gay e que tinha um ponto de vista contrário à esquerda do período apesar de ser um jornal de esquerda. O objeto final era chegar até a comunidade homossexual brasileira para lhe oferecer elementos para que pudesse desenvolver uma consciência mais aguçada dos seus direitos. OP - Hoje, no Br asil, há algumas publicações voltadas para o público gay, como Junior, DOM. Elas têm alguma perspectiva política? Trevisan - Eu escrevo na GMagazine. Elas (revistas) não são órgãos de ONGs ou boletins de grupos de liberação, mas hoje a ideia de direitos homossexuais está muito mais diluída na sociedade e um dos pontos de captação são as revistas. É claro que elas tentam mesclar os problemas políticos de tal modo que não percam os seus objetivos comerciais. Mas, nos objetivos comerciais das revistas, nós podemos ver sim embutidas algumas perspectivas políticas. São poucas? São, mas elas existem. Um revista como a GMagazine eu tenho um grande prazer em escrever no meio de homens que estão sendo fotografados em termos de sexo explícito. Eu gosto dessa ideia. Eu não gosto das compartimentalizaçõ es. Toda sexualidade tem um componente subversivo. OP - Como você vê o ativismo político homossexual b rasileiro hoje? Trevisan - É um ativismo muito atrelado ao governo petista e dependente do Ministério da Saúde. Porque continua ligado à questão da Aids, o que eu acho, sob o ponto de vista político, uma coisa muito perigosa. Acaba associando queira-se ou não homossexualidade e Aids, no momento em que essa associação é uma piada. Na verdade, a Aids é uma pandemia espraiada em todos os grupos sociais. Por outro lado, eu acho que o movimento homossexual acaba pagando pedágio ao partidarismo petista, quando atende às ordens do PT sistematicamente. O resultado é que a comunidade homossexual brasileira é extremamente pobre do ponto de vista político da consciência dos seus direitos e inclusive da autoestima. Ela não está sendo colocada na roda viva na luta pelos direitos homossexuais. Na verdade, as coisas estão mudando um pouco com as paradas. As paradas são importantes justamente pelo fato de colocar o dedo na ferida da invisibilidad e homossexual. OP - Que resquícios o País guarda até hoje desse capítulo da história que foi o pânico heterossexual diante do avanço da Aids? Trevisan - A associação entre Aids e homossexualidade continua. Acho que vai continuar por décadas, enquanto for uma doença sem cura. Algo parecido aconteceu com a tuberculose e a sífilis, relativamente à sexualidade. Em maior grau, a sífilis foi considerada uma doença de origem sexual, mas a tuberculose tinha uma áurea de que as pessoas com tuberculose seriam desregradas. No inconsciente coletivo, com toda certeza, ainda se associa Aids e prática homossexual. OP - Mas a Aids foi importante na questão da visibilidade? Trevisan - Com certeza. A Aids fez em dois anos o que o movimento homossexual teria feito em 10 do ponto de vista da visibilidade. Isso, inclusive, a contra gosto. As pessoas ficavam sabendo que atore s em Hollywood eram homossexuais, da Globo eram homossexuais, cantores, justamente porque foram infectados e acabaram falecendo, como foi o caso do Cazuza, do Lauro Corona. A existência de um grupo homossexual veio para as primeiras páginas do jornal, na contramão dos direitos. OP - A Parada Gay de São Paulo é considerada a maior do mundo. No entanto, o evento presencia episódios de violência contra homossexuais, como o caso do cozinheiro (Marcelo Campos Barros, de 35 anos), que foi agredido e morto. Há um contradição entre a enorme adesão e a intolerância? Trevisan - Não é contradição nenhuma. Quanto maior a ação, maior a reação. As pessoas que estão indo para a parada para bater em “veado” estão fazendo a mesma coisa que seus pais e avós faziam, movidas pelo medo de ter o seu pau cortado. É um mecanismo inconsciente que reage ao medo à castração. As pessoas continuam achando que homossexual é alguém que foi castrado e têm medo de se refletir nesse espelho. E vão lá e quebram o espelho. Eu vi, pelo menos, três situações de violência na parada que eram bandos que estavam dando porrada. Essas pessoas estão entrando em pânico porque homossexuais estão ocupando espaço e elas não estão dispostas a deixar que esse espaço seja entregue aos homossexuais. É uma reação de pânico, o que significa uma reação irracional. O estranho é que a polícia não tome atitude porque eu não vi um policial tomando nenhuma atitude. OP - Você escreveu que a homossexualidade no Brasil faz parte da vivência carnavalizada. O que há de específico em ser homossexual no Brasil? Trevisan - Quando eu falo da carnavalização, eu me refiro à mascara. A prática homossexual é historicamente ligada à mascara, no sentido que, ela teve que aprender a sobreviver na escuridão e através de disfarces. De repente, cai a sopa no mel. Você está no carnaval, uma festa permitida e incentivada, e lá você tem o elogio da máscara. O carnaval é emblemático da homossexualidade no Brasil. OP - Ser homossexual é uma condição inata? Trevisan - Não me interessa esse tipo de pergunta. (O dramaturgo francês) Jean Genet dizia que perguntar porque eu sou homossexual é tão inútil quanto perguntar porque eu tenho olhos azuis e não verdes. Viva e deixe viver. Se as pessoas têm um desejo que não é permitido socialmente ou que é discriminado socialmente, eu não vou buscar as suas raízes para poder dizer se ele é permitido ou não. As pessoas têm esse desejo. É um desejo pacífico em relação à coletividade e absolutamente natural no contexto da vida sexual e afetiva das pessoas, de modo que eu acho que a prática homossexual é uma soma de diferentes circunstâncias. Se alguém quiser estudar, eu sugeriria que estudasse também a cir cunstância da prática heterossexual no Brasil. Ela não é exatamente inata. É uma situação imposta socialmente porque muitos dos homossexuais que existiram nesse planeta deram perpetuação à espécie da mesma maneira e nem por isso deixaram de ser homossexuais. A prática heterossexual como continuidade da espécie é uma balela. As novas famílias estão provando isso. A família não é uma instituição heterossexual. É uma instituição social em construção. A sua definição está constantemente em estado de mudança. A família é um conceito em devir. Não se apaixone pelo poder.

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