Lula com governadores aliados, em São Paulo. Foto Ricardo Stuckert/PT
Quem viu, nas transmissões ao vivo pela internet nesta quinta, um Lula refeito discursando e fazendo piadas no seu “dia do aceito” (a candidatura à presidência pelo PT), saiu com a certeza de que não mataram a jararaca – que, aliás, foi tema de uma das brincadeiras. O fato de não estar morta não coloca a jararaca no Palácio do Planalto, possibilidade que, de fato, ficou muito mais difícil.
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Lula é um sujeito esperto e sabe disso, assim como sabe que, mesmo nessa hipótese, tem nas mãos um importante ativo eleitoral, traduzido no apoio de quase um terço do eleitorado, situado sobretudo entre os mais pobres.
O ex-presidente está sendo aconselhado por caciques petistas a chamar os quatro principais candidatos de esquerda à presidência para um pacto: Ciro Gomes (PDT), Manoela D’Ávila (PCdoB), Guilherme Boulos (PSOL) e, pelo PSB, o nome que se apresentou até agora, Aldo Rebelo.
Essa articulação prevê que eles continuem prestando solidariedade ao petista e ajudando a fazer barulho em torno dos recursos de Lula e da mobilização que o PT prepara para as ruas. Cada um mantém sua candidatura, com compromisso de apoio mútuo no segundo turno e união em torno de um programa mínimo de governo. Se a candidatura Lula vingar e chegar lá, é isso que vai acontecer.
Mas todo mundo sabe que Lula pode não chegar lá. Se isso acontecer, o compromisso, do lado do petista, seria dar seu apoio a um desses nomes – o que estiver melhor situado nas pesquisas – , indicando um petista para a vice, em vez de lançá-lo em seu lugar. Entre  petistas, muita gente acha que esse candidato de união das esquerdas poderá vir a ser Ciro Gomes, mas outros preferem Aldo Rebelo, um nome próximo de Lula.
A possibilidade de celebração desse pacto já circula há alguns dias, e talvez isso explique a nota do PSB de apoio a Lula na véspera do julgamento do TRF4 e as informações que circulam de que os socialistas não estão mais tão interessados assim na filiação do ex-ministro do STF Joaquim Barbosa.
Da mesma forma, Ciro Gomes chegou junto nos últimos dias. Leu as mais de 200 páginas do processo e declarou considerar que não havia provas contra Lula. Assim como há males que vêm para bem, e que a crise abre o caminho para novas oportunidades, é possível que a condenação se Lula abra espaço para uma até hoje impensável união das esquerdas na eleição deste ano. Com o ganho, para todos, de evitar que os votos de Lula se pulverizem entre vários candidatos ou escorram majoritariamente para Marina Silva – esta não vai ser chamada para a conversa.
Fonte. Helena chagas